Introdução
Pretendo, como em mails de viagens anteriores ( mas desta vez sob a forma de um blog), fazer uma breve descrição da viagem que fizemos ao Sul da Índia em Novembro de 2017, complementando uma série de fotos das muitas que fui tirando durante cerca de duas semanas e incluindo links para quem possa estar interessado em informação complementar. Desta feita a maioria das fotos será apresentada sob a forma de pequenos videos que serão mais fáceis de visionar, ou de evitar, aos potenciais leitores deste blog.
Ainda como introdução e para quem possa estar interessado na História da Índia de forma a poder perceber as razões históricas que levam o Sul a ser diferente do Norte, tomo a liberdade de fazer neste primeiro post de introdução umas breves observações.
Vejamos o Mapa em que são representados os vários Estados que integram presentemente a Índia e, por mera curiosidade e um pouco de cinismo jocoso, a versão Google desse mapa
O Sul da Índia engloba, quanto a nós, os Estados situados ao sul do paralelo de Goa
Na nossa viagem estivemos nos estados de Kerala, Karnataka e Tamil Nadu, nas localidades que assinalámos no mapa seguinte, o que nos permitiu adquirir algum conhecimento ( mera presunção minha?), mas necessariamente superficial sobre a realidade local.
Mas o que tem o Sul de diferente do Centro e sobretudo do Norte?
A explicação reside essencialmente na História milenar da Índia, desde o povoamento inicial, nas margens do rio Indo (designação persa de onde provem o nome do país), há mais de 5.000 anos, e das principais Civilizações e Impérios que se seguiram.
A Civilização Harappan, há cerca de 4.000 anos em expansão pelo Norte. A chegada do ramo "indiano" dos indo-europeus ( cerca de 1500 anos AC), a conquista da região pelos Persas e por Alexandre o Grande que todavia não ultrapassou o Indo. Os impérios locais que deixaram, as cidades que fundaram e a Civilização que ajudaram a construir.
No Norte surgiram também os primeiros grandes impérios do subcontinente indiano
O império Maurya ( cerca de 350 anos AC), com o primeiro grande herói da India, Chandragupta que o actual presidente indiano Modi pretende homenagear com uma estátua monumental e o seu neto o grande imperador Ashoka (250 AC) convertido ao budismo e que muito fez pela sua expansão até ao Sri Lanka.
Seguidamente o Grande Império Gupta ( 320 DC)
Também nasceram no Norte da Índia as grandes religiões,
o Hinduismo , milhares de anos antes Cristo, com os livros sagrados da sua doutrina os Vedas, e os poemas épicos
o Ramayana
e o Mahbarata https://pt.wikipedia.org/wiki/Mahabharata
que hoje são ainda a sua base popular.
Do norte vieram também o Jainismo e o Budismo no Sec. VI A.C.
Já na Idade Média formou-se no Norte o Sultanato muçulmano de Dehli (a partir de 1206)
No Sec XVI foi fundado o grande Império muçulmano dos Mogois (corruptela da palavra Mongol de quem os Mogois gostavam de ser considerados descendentes, através de Tamerlão, o grande Herói do Sec. XIV da Ásia Central)
Os mogois foram perdendo poder no Sec. XVIII com revoltas e com a diluição do poder central o que permitiu aos Britânicos assenhorarem-se de toda a Índia através de uma companhia privada, a Companhia das Indias Orientais e dos senhores locais. Em meados do Sec.XIX acabaram por anexar a Ìndia ao seu já vasto Império, para acabar com as veleidades de alguns marajás. A Rainha Victória passou a ser a Imperatriz da Índia, pela primeira vez unificada graças aos britânicos. A Índia passou a ser governada por um Vice-rei, uma vez subjugados e amansados todos os marajás (os grandes reis) senhores do poder locals que continuavam a reinar de acordo com a "gestão" e os interesses ingleses.Uma listagem extensa dos principais acontecimentos da História da Índia aqui:
Para quem possa estar mais interessado conhecer algo mais sobre a história da Índia, os vários impérios, incluindo os do Sul aqui não referidos, basta ler, se tiverem tempo e pachorra, o extenso artigo da Wikipédia ou algum dos seus resumos que seguidamente referimos:
Recomendamos também sobre o domínio Britânico o excelente filme de David Lean
" Passagem para a Índia"
Do pequeníssimo relato que fizemos sobre a história da Índia se poderá constatar que a força das grandes Civilizações e Impérios esteve quase sempre no Norte embora por vezes tenha conseguido chegar até ao sul, onde outros marajás construiam os seus reinos, combatiam entre si e, como veremos, se iram sucedendo na corrente da História, criando também eles uma Civilização algo distinta do Norte.
No Sul foram-se concentrando os povos de fala não indo-europeia denominados de fala dravídica , de vedas os livros sagrados dos Hindús.
Como se sabe os povos da Índia falam inúmeras linguas
e utilizam vários alfabetos o que torna muito difícil o esforço tremendo da unificação do país e mesmo também muito difícil a fixação do Hindi e do seu alfabeto como língua oficial da Índia, até agora mais conseguida no Norte (a vermelho no mapa)
No sul as linguas denominadas dravídicas ( não indo-europeias) sofreram também uma evolução a partir de uma suposta língua original.
e por isso viemos encontrar no três Estados que visitámos três linguas diferentes e três alfabetos e praticamente nada escrito em Hindi ( todas as linguas e alfabetos para nós eram, como é obvio, "chinês")
que comparados
nos deixam ficar na mesma ignorantes
É lógico que, no Sul, o inglês, também lingua oficial da Índia, para uma parte da população mais instruída, seja empregue como língua de comunicação entre os falantes de linguas locais. Na divisão administrativa, após a independência, os novos Estados foram concebidos de modo a agrupar populações que falariam, em princípio, a mesma língua ou duas ou três linguas maioritárias e utilizavam, se possível, um único alfabeto.
Para além da divisão línguística há o problema da divisão social em castas que, emboram proibidas por lei, continuam a ter muita força na sociedade, e a dificultar em muitos aspectos a organização social, o progresso económico e até a saúde pública, como por exemplo o problema do lixo, um cancro em toda a Índia.
Só certamente daqui a muitos anos, com a progressiva extensão da escolaridade e pela evolução social de sucessivas gerações poderá ser possível eliminar por completo as castas. Relativamente a este tema recomenda-se o último romance de Arundahti Roy
Todavia foi possivel, que presentemente o Presidente da Índia fosse um intocável, um dalit, um membro da classe mais baixa que só devia realizar tarefas desagradáveis, como por exemplo lidar com cadáveres e a recolha do lixo e aos quais é proibido o acesso inúmeras actividades sociais e até o contacto com membros de outras castas.Mas a ascenção social é, ainda hoje, extremamente difícil.
Já vai longa esta introdução que, admito, possa vir ser a útil para conseguir ver, com outro olhar, algumas das fotos que se seguirão nos "próximos episódios"
Para terminar e para amenizar esta minha erudição de pacotilha e de Wikipédia aqui vão algumas fotos soltas do Sul da Índia muitas das quais irão integrar os prometidos vídeos.
Se tiverem ainda coragem, até ao próximo post ! Prometo desde já mais imagens e pouca prosa.
Estou aberto , como sempre, a críticas e sugestões que me queiram fazer para o mail
Obrigado pela paciência de chegar até aqui e um até breve
JOAQUIM CASTILHO